The Hellacopters é uma banda de rock sueca formada em 1994, mas que por puro desleixo só ganhou a minha devida atenção neste ano. A formação só se consolidou em 1999, pouco antes das gravações desse disco que vos falo.
Mesmo tendo na bagagem um Grammy Sueco e uma turnê com o Kiss, essa banda que já teve como integrante Nicke Andersson do Backyard Babies e alguns outros nomes, só alcançou mesmo sucesso mundial após o lançamento de High Visibility (2000), e não é nada dificil perceber o motivo desse disco ter causado tanto impacto. O Hellacopters tem a bateria do rock dos anos 60, a guitarra e baixo do hard-rock anos 70, os vocais reverb dos 80 e tudo isso soando como uma banda de garagem dos anos 90, é mole?! E é exatamente neste album que toda essa alquimia fica evidente.
O disco começa com um bom cartão de visitas: ''Hopeless Case Of A Kid In Denial'' abre os caminhos com um riff dedilhado dividido entre a distorção e o violão, num clima meio tenso, e logo mostra as garras com uma boa sequência harmônica de chords abertos e powerchords deixando bem claro que a velha simplicidade de guitarra plugada direto num amplificador valvulado é matadora, mas exige competência e pegada pra não deixa tudo soando “murcho”. A afinação meio-tom abaixo é uma arma poderosa pra esse tipo de sonoridade. Logo entra uma bela frase de pentatônica deixando claro que aqui se trata de um bom rock 'n roll e abrindo caminho pro primeiro verso. O vocal é cortante como deve ser, mas com uma pitada de açucar na medida, não te deixando sentir o quanto aquilo vai te fazer cantarolar no caminho da padaria.
Quando falo que os timbres vindos das seis cordas são baseados nas boas bandas de 'hard', pode esquecer os high-gain's do hard-rock glam. É setentista mesmo! De um jeito que o Jimmy Page estilaria, mas Chuck Berry não seria capaz de dar risada da piada. Certa vez ouvi que quanto mais se usa a munheca com sabedoria, menos se usa distorção. E esses rapazes sabem como fazê-lo.
Aí você pensa que vai ouvir aquela batida marcada e massante que predominou até a chegada do metal? Negativo. Aqui é tudo mais puxado pro The Who do que pro AC/DC. O baterista 'Robban' (é, eles têm codinomes) dá seu toque com muita personalidade e quebrada. O baixista 'Kenny' sabe a hora de entrar e sair, como se pode notar num dos hits “Toys and Flavors”. Impressionante a capacidade da banda de compor bons hits, com linhas melódicas que te grudam, sonoridade vintage, mas sem aquela sensação de já ter ouvido tudo aquilo antes. Aplausos.
Mas tudo pode parecer um pouco mais clássico e clichê na medida certa como em “You're To Good (To Me Baby)” e “Throw Away Heroes”. Mas, como sempre, tudo muito bem composto e encaixado como um bom standard do rock deve ser feito. Ou tudo pode soar mais blues e suingado como Keith Richards gosta. É o que se percebe em “No Song Unheard”. As vezes eu penso que o Mick Jagger vai entrar cantando essa música, aí o 'Nicke Royale' fala a primeira frase e eu percebo que ele também é versátil.
Confesso que fiquei muito arrependido de não ter dado atenção ao hype que surgiu em volta do Hellacopters na época. Mas como nunca é tarde para se redimir, cá estou eu, viciado neles. E não para por aqui não, se você acha que o Arctic Monkeys é a coisa mais moderna que você já ouviu, e que o Forgotten Boys é tão rock que dá vontade de colocar calças justinhas e se tatuar, não perca o próximo capítulo dessa história: By the Grace of God (2002). Mas isso é assunto pra outro post, daqui pra lá você não vai parar de ouvir o antecessor. Baixe aqui!
